quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

TRAPAÇAS: Target 01






Target 01: Charlie Daves.

            Era meu terceiro dia de trabalho e eu já estava começando a considerar a hipótese de pedir transferência. Comparado ao departamento de investigação de Louis – uma cidadezinha do interior – aquele lugar era o inferno. Em Louis eu conseguia trabalhar com tranquilidade e, justamente por fazer um ótimo trabalho, acabei sendo transferido para Nova Iorque. Admito que, no período da faculdade, meu maior sonho era estar ali, trabalhando com os melhores investigadores, em casos difíceis, ajudando a por atrás das grades os maiores bandidos que apodreciam o país. Mas a minha visão maravilhosa, de que o centro de investigação de Nova Iorque fosse o melhor lugar do mundo, um verdadeiro paraíso, foi por terra logo no primeiro dia.

            Encarei o prédio alto com desdém. A arquitetura moderna, de revestimento espelhado, que refletia o céu e que havia me deixado boquiaberto no momento que cheguei já não me impressionava mais. Olhando de fora, era impossível imaginar o caos que era lá dentro. O piso da recepção era o único que se salvava. Acenei para as recepcionistas, passando meu cartão na leitora e atravessando a catraca. Cruzei o saguão e parei por um instante, respirando fundo, quase em oração para que o dia de hoje fosse menos pior. Empurrei a porta de vidro suspirando, decepcionado ao perceber que provavelmente o dia seria tão ruim quanto o anterior.

            O lugar estava cheio, pessoas andavam de um lado para o outro, a maioria penduradas no celular carregando copos de café ou papéis. O burburio de tanta gente falando ao mesmo tempo preenchia o recinto. Passei pelas baias, desviando dos obstáculos até chegar a minha mesa.

            Depositei minha pasta ao lado da CPU e sentei-me na cadeira. Na mesa ao lado Tyler conversava com outras três pessoas - as quais eu ainda não havia decorado os nomes. Assim que me viu, deu um giro de 180º em sua cadeira e parou de frente para mim.

—Bom dia Charlie. – Cumprimentou-me casualmente. Respondi com um aceno mudo. – Ártemis está te esperando na sala dela.

Suspirei novamente, sentindo mais noventa quilos serem acrescidos ao peso que já carregava nas costas, e me levantei, encaminhando-me à sala da chefe.

Amanda Waltz é a chefe do departamento de investigação. Eu só havia estado com ela uma vez: no dia em que cheguei. Ela possui uma aparência jovem, poderia passar por uma garota de 18 anos facilmente, porém seu rosto bonito e delicado e seus cachos loiro-platinados em nada condiziam com sua postura rígida e sua testa franzida. Por ser uma detetive habilidosa e por nunca deixar uma “presa” escapar, os colegas de departamento a apelidaram carinhosamente de Ártemis, a deusa Grega da caçada.

Bati na porta entrando assim que ouvi-a responder com um entre abafado. Amanda estava sentada em sua cadeira, encarando a tela do computador enquanto digitava. Ao seu lado estava uma mulher alta e elegante, trajando um terninho preto. Seu cabelo castanho e liso estava preso em um rabo de cavalo no alto da cabeça. As duas direcionaram o olhar para mim quando fechei a porta.

—Sente-se, Daves. – Pediu a chefe do departamento, indicando-me a cadeira a frente de sua mesa. A mulher ao seu lado encarou-me de cima a baixo. Limitei-me a obedecer a detetive e puxei a cadeira, sentando-me.

—Esta é a Dra. Natalie Gallt. – A mulher estendeu sua mão e eu a apertei com firmeza. – Ela é Promotora de justiça e ajuda a manter os criminosos que nossa equipe captura atrás das grades.

—É um prazer conhecê-lo, Sr. Charlie Daves. Waltz me falou muito bem de você, acredito que será perfeito para o serviço. – Dra. Gallt deu a volta na mesa, sentando-se na cadeira ao meu lado, me encarado. Era difícil sustentar o olhar da promotora por muito tempo, suas íris castanhas eram intensas e pareciam vasculhar cada canto da minha mente.


—Serviço? – Indaguei, confuso.

—Exato. – Quem respondeu foi Amanda, apoiando o queixo sobre as mãos. – Você está sendo escalado para um trabalho de espionagem.

Pisquei algumas vezes, tentando assimilar a informação. Não era estranho e nem mesmo incomum detetives fazerem espionagem, porém, eu havia acabado de chegar ali, com que critérios haviam me escolhido, sendo que mal me conheciam? Como poderiam ter certeza de que eu era confiável para a missão?

—Imagino que deva estar pensando o porquê de termos te escolhido, sendo que chegou faz pouco menos de uma semana, certo? É exatamente por isso, detetive Daves. – A chefe do departamento abriu uma gaveta e dela retirou alguns papéis, colocando-os a minha frente.

Peguei os papéis e comecei a analisá-los superficialmente. Na segunda página estava anexada a foto de um jovem de cabelos arrepiados, num tom intenso de loiro. Seus olhos eram azuis e sua pele era levemente bronzeada, o que denunciava algum tempo de exposição aos raios UV. Ele usava roupas da moda: Uma jaqueta jeans com uma camiseta branca que dizia “I am the SUN”. Em suas mãos estava um microfone e ele parecia estar cantando para um grande público.

—Este é John Rivers. Ele é um ídolo teen. Canta em uma banda chamada the sun, sob a alcunha de Apolo. Temos pistas que indicam que ele possui uma ligação com esta pessoa – Amanda apontou para a fotografia de baixo. Nela se encontrava um rapaz de cabelo preto usando uma mascara branca que cobria parte de seu rosto, deixando visível apenas do nariz para baixo. A foto estava escura, porém era perfeitamente possível ver seus olhos azuis. – O ladrão foragido conhecido como Hermes.

Eu já havia lido sobre Hermes, o trapaceiro. Ele era um ladrão que vinha atormentando as noites de banqueiros e donos de grandes fortunas em Nova Iorque a cerca de um ano. O mais incrível era que, não importava a situação em que se encontrava – fosse em um beco sem saída cercado pela polícia ou no alto de um precipício com uma arma apontada em sua direção – ele conseguia sempre escapar. Nem mesmo a maior especialista do país havia consegui por suas mãos no ladrão. Isso devia ferir o orgulho da detetive.

—O que você vai fazer é se infiltrar na equipe de Apolo e tentar descobrir qual a ligação dos dois.

—Precisamos dessa informação, se conseguirmos provar que os dois agem juntos ou que John Rivers é cúmplice de Hermes, talvez consigamos prender  ladrão trapaceiro. – Dra. Gallt explicou, pousando as mãos sobre as próprias pernas, com uma expressão serena. – É ai onde você entra, detetive Daves. Acreditamos que ainda não tenha dado tempo de Hermes atualizar a informação de sua chegada. – Amanda assentiu, concordando com a promotora.

—Você é o mais indicado para se infiltrar e ganhar a confiança de Rivers. – A chefe praticamente debruçou-se sobre a mesa. – Quero que sugue até a última gota de informação daquele loiro arrogante.

Senti uma onda gelada passear pela minha coluna e por um instante pensei ter visto os olhos da detetive se tornarem frios e prateados, mas então ela suspirou, recostando-se na cadeira e aliviando um pouco sua postura.

Eu ainda estava tentando digerir a informação. Praticamente do dia para a noite eu passava de um detetive de uma cidadezinha pequena, para um integrante importante de uma missão de investigação para capturar um dos maiores ladrões do país.

            Definitivamente eu não sabia se isto era bom ou não, tanto para minha carreira quanto para a minha saúde.

-----x-----

Como prometido, primeiro capítulo de TRAPAÇAS!
Espero que se divirtam!

2 comentários:

  1. wow :o Historia promissora, mto interessante me empolgou bastante e sua escrita fluida e sem muitos rodeios é ótima *-* Ansiosa pelo próximo capitulo s2

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    1. Obrigada! Se tudo der certo, logo começo a recolocar a história no papel ^^
      Obrigada por comentar!
      #Lizzy

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